sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Dia Mundial da Fotografia – 19 de Agosto

Numa manhã, mais precisamente no dia 19 de Agosto de 1839, a fotografia tornou-se de domínio público em território francês.

O físico François Arago num anúncio oficial feito na Academia de Ciências e Artes de Paris explicou os detalhes e mostrou a uma plateia espantada e ao mundo o novo processo criado por Louis Jacques Daguerre, o daguerreótipo. Naquele momento o ato parecia de magia. Uma caixa escura, era capaz de captar e fixar numa superfície o mundo “real”.

Dizem as lendas que depois da cerimónia várias pessoas saíram às ruas à procura de uma máquina de fazer daguerreótipos. A vontade de produzir imagens desde ai nunca mais terminou.

Daguerre não perdeu tempo, mesmo antes de oferecer a sua criação à França já tinha apresentado o daguerreótipo nas Ilhas Britânicas, Estados Unidos e nos quatro cantos do mundo.

“De hoje em diante, a pintura está morta” declarava o pintor Paul Delaroche. Nos círculos mais conservadores e nos meios religiosos da sociedade, a invenção foi chamada de blasfémia, e Daguerre era condecorado com o título de “Idiota dos Idiotas“.

O pintor Ingres, ainda que utilizasse os daguerreótipos de Nadar para criar os seus retratos, menosprezava a fotografia, como sendo apenas um produto industrial, e confidenciava: “a fotografia é melhor do que o desenho, mas não é preciso dizê-lo”.

Baudelaire, um dos mais expressivos representantes da cultura francesa, negava publicamente a fotografia como forma de expressão artística, alegando que “a fotografia não passa de refúgio de todos os pintores frustrados”, e, sarcasticamente, celebrava a fotografia “como uma arte absoluta, um Deus vingativo que realiza o desejo do povo e Daguerre foi seu Messias. Uma loucura, um fanatismo se apoderou destes novos adoradores do sol”. Com estas declarações, Baudelaire refletia o choque causado pela fotografia na intelectualidade europeia da época.

Um artigo publicado no jornal alemão Leipziger Stadtanzeiger, ainda na última semana de Agosto de 1839, ajuda a perceber melhor este confronto: “Deus criou o homem à sua imagem e a máquina construída pelo homem não pode fixar a imagem de Deus. É impossível que Deus tenha abandonado seus princípios e permitido a um francês dar ao mundo uma invenção do Diabo”. (Leipziger Stadtanzeiger, 26.08.1839, p.1) O novo conceito da realidade agitou o mundo cultural e artístico europeu.

Como entender que a fotografia viesse para ficar, a não ser em substituição das tradicionais formas de representação? Já se havia gasto vãs subtilezas em decidir se a fotografia era ou não arte, mas preliminarmente, ainda não se perguntara se esta descoberta não transformava a natureza geral da arte e da cultura.

A nova invenção teve importância mais filosófica do que científica. Nasceu dentro do germe da sociedade industrial e a partir desta data o mundo nunca mais seria o mesmo.


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